Ajudando Filhos com Estresse e Ansiedade

Sentir estresse e ansiedade faz parte da vida — tanto para adultos quanto para crianças. Tentativas de negar ou minimizar essas emoções apenas ensinam aos filhos que não é seguro falar sobre o que sentem. Em vez disso, é fundamental mostrar a eles que o estresse existe, mas que existem estratégias concretas para enfrentá-lo. Quando aprendem desde cedo a lidar com as próprias emoções, serão mais resistentes diante dos desafios cotidianos e terão menos probabilidade de recorrer a soluções pouco saudáveis, como o uso excessivo de medicação.


Por que não devemos “proteger” demais

É natural querer poupar nossos filhos de sofrimento. Porém, ao tentar evitar que sintam ansiedade ou frustração, privamos a criança da oportunidade de desenvolver habilidades essenciais:

  • Autoconfiança: enfrentar pequenos medos constrói coragem.
  • Resiliência: aprender que emoções desagradáveis passam com o tempo.
  • Autocontrole: descobrir formas de regular o próprio corpo e a mente.

Proteger demais acaba dizendo, mesmo que sem querer, “você não dá conta”, e pode gerar insegurança, dependência e até mais ansiedade no futuro.


Normalizando as emoções negativas

Reconhecer a realidade do estresse e da ansiedade

Explique ao filho que sentir-se estressado ou ansioso é normal em múltiplas situações: antes de uma apresentação na escola, num dia de provas, quando há mudanças na casa ou na rotina. Use palavras simples:

“Sabe aquele friozinho na barriga que você sente antes de subir ao palco? É seu corpo te avisando que algo importante vai acontecer.”

Compartilhar suas próprias experiências

Quando for apropriado, conte um caso breve de algo que você também sentiu e como lidou. Por exemplo:

“Quando eu era jovem, ficava nervoso antes de dirigir sozinho. O que me ajudava era respirar fundo três vezes e lembrar que eu sabia o caminho.”

Isso cria empatia e mostra que sentir medo não é vergonha.

Evitar mensagens contraditórias

Dizer “não fique nervoso” ou “isso não é nada demais” ignora o sentimento da criança. Em vez disso, valide:

“Entendo que você está nervoso — é normal. Vamos pensar juntos no que pode ajudar.”


Ensinar habilidades de enfrentamento

Aprender na prática como lidar com emoções negativas é mais eficaz do que apenas conversar. A seguir, quatro conjuntos de habilidades, cada um com exemplos práticos para uso imediato.

Aceitação do que não se controla

Princípio: aceitar não significa desistir, mas reconhecer limites e focar onde é possível agir.

  • Exemplo no dia a dia: se a prova foi marcada sem aviso, a criança pode sentir raiva. Ensine-a a dizer: “Não posso mudar o dia da prova, mas posso revisar um pouco hoje e amanhã para me sentir mais confiante.”
  • Exercício de aceitação: peça que liste três coisas que estão fora de controle (tempo, opinião dos outros, mudanças na escola) e três que ela pode controlar (horário de estudo, lanche saudável, tempo de descanso).

Exposição gradual aos medos

Princípio: encarar medos em passos pequenos, para não desencadear pânico.

  • Medo do escuro: comece com uma luz noturna ligada. Após alguns dias, reduza a claridade até que a criança se acostume.
  • Medo de falar em público: pratique primeiro em casa, na frente dos pais; depois, convide um amigo; finalmente, peça que leia um pequeno texto para a turma.
  • Recompensa simbólica: celebre cada etapa vencida com um abraço ou um elogio específico (“Você falou com a camareira sem ficar tenso — isso mostra coragem!”).

Reestruturação de pensamentos (cognições)

Princípio: identificar ideias automáticas exageradas e substituí-las por pensamentos mais equilibrados.

  1. Perguntar “Qual o pior cenário?” “E se eu errar um problema na prova?”
    Resposta ajustada: “Errei um exercício, mas posso aprender com o erro e estudar mais.”
  2. Buscar evidências concretas: “Pense em outra vez que você fez prova: você sempre teve dificuldade?”
    Se a criança lembra de notas boas em exercícios semelhantes, ela confronta a crença “sempre vou falhar”.
  3. Criar um pensamento alternativo: Em vez de “Ninguém vai gostar da minha apresentação”, usar “Eu me preparei e vou fazer o meu melhor; as pessoas entendem quando temos nervosismo.”

Técnicas de relaxamento e autocontrole corporal

Princípio: acalmar o corpo para reduzir a reação emocional.

  • Respiração 4-7-8:
    1. Inspire pelo nariz contando até 4.
    2. Segure o ar contando até 7.
    3. Expire pela boca contando até 8.
      Repita três vezes antes de um momento de tensão.
  • Relaxamento muscular progressivo:
    1. Peça que contraia os pés por 5 segundos e depois relaxe.
    2. Suba para panturrilhas, coxas, abdômen, braços e pescoço, tensionando e soltando cada grupo.
  • Pausa consciente de 1 minuto:
    Sente em silêncio e peça à criança que apenas observe o que ouve — o vento, vozes distantes, sons de casa — sem julgar.

Modelagem: sendo o exemplo que as crianças seguem

Transparência e honestidade

  • Diga, em linguagem infantil: “Mãe também fica ansiosa quando o chefe marca reunião de última hora. Eu respiro fundo e escrevo três ideias no papel para me organizar.”

Evitar sermões

  • Prefira conversar em pequenos trechos: durante a brincadeira, na hora do lanche, num passeio.
  • Use perguntas mais do que ordens: “O que acha de fazermos juntos alguns exercícios de respiração antes de dormir?”

Comemorar o esforço

  • Elogie os passos dados: “Vi que você respirou como combinamos quando sentiu nervosismo — isso é muito legal!”

Criando um ambiente de apoio emocional

Rotina estável

  • Horários regulares para sono e refeições ajudam a reduzir a imprevisibilidade — e, com isso, a ansiedade.
  • Planeje um “momento de desaceleração” na hora de dormir: sem telas, apenas leitura leve ou conversa tranquila.

Espaço para expressar sentimentos

  • Tenha uma “caixinha de emoções” ou quadro branco onde a criança possa desenhar como se sente.
  • Ofereça frases prontas: “Hoje estou me sentindo __ porque __.”

Limites claros e consistentes

  • Crianças se sentem mais seguras quando sabem o que esperar.
  • Explique regras simples: “Depois de estudar, podemos brincar por 30 minutos. Se faltar tempo, ajustamos amanhã.”

Quando a ajuda profissional é necessária

Embora muitas estratégias funcionem em casa, há sinais de que seu filho pode precisar de suporte clínico:

  1. Sintomas intensos e duradouros: crises de pânico frequentes, insônia, choro incontrolável.
  2. Prejuízo no dia a dia: recusa escolar, isolamento social, irritabilidade extrema.
  3. Comportamentos compensatórios: pedir medicação sem orientação, buscar substâncias para “acalmar”.
  4. Fala sobre não conseguir suportar o que sente ou pensamentos de machucar-se.

Nesses casos, procure um psicólogo infantil ou psiquiatra pediátrico. A terapia pode usar atividades lúdicas para ensinar enfrentamento, e, se necessário, o médico indicará medicação segura.


Mantendo o progresso a longo prazo

  1. Revisite as estratégias regularmente: pratique exercícios de respiração juntos, mesmo quando não houver crise.
  2. Atualize o repertório de enfrentamento: conforme a criança cresce, adapte técnicas — jogos de roles, diários de humor ou aplicativos de meditação.
  3. Fortaleça a rede de apoio: inclua professores, avós ou tios no processo, explicando as estratégias para que reforcem também.

Conclusão

Ajudar os filhos a lidar com estresse, ansiedade e emoções negativas é um investimento no bem-estar emocional deles ao longo da vida. Para isso, é fundamental:

  1. Validar os sentimentos, mostrando que medo, raiva e tristeza são reações normais.
  2. Ensinar estratégias práticas — aceitação, enfrentamento gradual, reestruturação de pensamentos e técnicas de relaxamento.
  3. Dar o exemplo, compartilhando como você mesmo utiliza essas ferramentas.
  4. Manter um ambiente estável e acolhedor, com rotina clara e espaço para expressar emoções.
  5. Observar sinais de alerta e, quando necessário, buscar apoio profissional especializado.

Com paciência e consistência, você vai equipar seu filho com habilidades que aumentarão sua confiança, resiliência e capacidade de enfrentar qualquer desafio com mais calma e equilíbrio.

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Paulo C Souza
Psicólogo clínico, terapeuta cognitivo-comportamental, com experiência de mais de 10 anos no atendimento de jovens, adultos e idosos. Em clinicas de psicologia e consultório particular.